quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Música em favor do Planeta Terra
Conhecidas pelas letras de protesto carregadas de palavras de ordem e atitudes por muitas vezes agressivas, as bandas de punk rock são recebidas com um certo receio pela opinião pública. Desde seu surgimento na década de 70, o punk rock deixou marcas, seja pelo visual adotado pela maioria dos punks, com cabelos “espetados” e jaquetas de couro com arrebites ou por personalidades polêmicas como o baixista do Sex Pistols, Sid Vicious. Nas terras tupiniquins, quando se fala em punk rock, lembra-se logo de João Gordo, da banda Ratos de Porão, famoso por não ter papas na língua. Mas não é só de radicalismo que vive o punk rock nacional. A banda paulista Cólera completa 28 anos de carreira este ano, com uma trajetória permeada por músicas voltadas para o meio ambiente, os males causados ao planeta e a necessidade de ser rever conceitos para que a terra continue viva. Em uma conversa com Redson, o blog Cultural Revolução aborda a questão ambiental, que está cada vez mais presente no nosso cotidiano e promete estar muito mais no próximo ano, que foi escolhido como o "Ano do Planeta".
Cultural Revolução: Em todas os Cd's a temática ambiental é abordada. Comente um pouco sobre a construção de cada um.
Redson: O Cólera é uma banda com mensagens conscientes e objetivas. As letras têm um direcionamento positivo no sentido de acordar as mentes para o assunto da vida em geral, tanto do lado "faça você mesmo" que é o lema do punk rock, como no de protestar contra a degradação do ecossistema. No álbum Pela Paz, a faixa “Vivo na Cidade”, retrata as grandes cidades, com ar negativo, concreto por todos os lados e árvores morrendo pelo desprezo geral. Temos um álbum, Verde, Não Devaste!, que aborda o assunto de forma bem profunda. Fala da manipulação e comercialização dos animais; da necessidade que todos têm do verde para sobreviver; da história da vida na Terra como uma decadência no processo de "evolução" e progresso com o preço da devastação das selvas; da extinção de animais; dentre várias outras situações. O Oceano é homenageado na faixa “Quem é Você?” do álbum Caos Mental Geral: "Mares e oceanos, os eternos gigantes, como eles eu vejo poucos seres humanos, com a força da vida, lutam sem descansar...".
Hoje estamos com um álbum que tem novamente no título um protesto contra a destruição do planeta: Deixe a Terra em Paz! E novamente o mar, as animais, as matas, enfim, a vida é o tema central.
CR: Deixe a terra em paz é um grito de alerta, mais evidente do que nos outros álbuns, falando inclusive da degradação humana. Porque isso?
R: A mensagem do Cólera não fica desatualizada graças a estupidez de governos, empresas e pessoas que manipulam um sistema destrutivo e que, se nada for feito em estado de EMERGÊNCIA, não teremos mais esta "casa" fantástica que é a Terra para morar. Daí, vamos para onde?? O ser humano está mantendo seus atos inconscientes que só resultam em matança, destruição e tristeza. Hoje o "bicho gente" já apresenta uma preocupante escala de aberração. É nítida a trajetória acelerada na contramão da escala evolutiva. As cidades são selvas de concreto e as pessoas preferem não pensar. É assustador o volume de mata natural que se destrói por dia. E mais, o nível de água potável na superfície está com seus dias contados.
CR: Vocês têm um trabalho paralelo à música em que a temática ambiental (e aí incluímos o meio ambiente natural e construído) esteja presente?
R: Acho que o dia a dia é um trabalho fundamental que cada um deve praticar. Usar de consciência nas suas ações. Cabe a cada um de nós fazer a nossa parte, desde não jogar uma garrafa plástica no chão, até não dar manutenção aos padrões destrutivos da vida como a violência, comércio de animais, etc.
Também já participei de uma entidade ecológica, o CEACOM.
CR: Como o público recebe os trabalhos do Cólera? Sabemos que são músicas de protesto, mas alertam muito mais para a questão do homem pensar localmente e agir globalmente, visando o bem comum. Músicas como Pela Paz, Medo, entre outras, chamam a atenção das pessoas por ter um discurso voltado para o papel de cada um e o bem coletivo. Como é esse "diálogo" com o público?
R: O público recebe muito bem. Não temos um público só de punks. Atingimos várias camadas da sociedade, até pessoas que nem escutam outras bandas punks. Nossa meta é chegar mesmo até todos, sem nos limitar.
CR: Na Europa, onde vocês já fizeram algumas turnês e têm o material divulgado, as pessoas atentaram para o conteúdo das letras? Vocês tiveram conhecimento disso?
R: Sim. Fomos bastante abordados sobre nossos temas. Sempre tive o cuidado de explicar a temática das músicas antes de tocá-las para o público europeu. A maioria não sabe o que estamos cantando, mas fazendo esta "tradução" fica bem esclarecida a mensagem. Rolaram entrevistas para revistas, rádios e fanzines, onde a temática foi muito abordada.
CR: O que vocês acham que pode ser feito para que o Meio Ambiente sofra menos impactos? Digo isso em relação às manifestações culturais?
R: A conscientização é fundamental. A forma de conscientizar não precisa ser só a música. Acho que todos os meios de comunicação, desde um flyer, uma camiseta, um CD, uma apostila ou fanzine, passeatas, bate-papos, um programa de rádio/tv, enfim, todas as possibilidades de abrir caminho para que as pessoas entendam a necessidade de mudar imediatamente os costumes destrutivos, devem ser praticadas. O que dizemos com nossas letras é que o exemplo funciona para todos, desde a criança até o idoso.
CR: Sabemos que manifestações culturais podem modificar as pessoas. Vocês acham que as letras de "Águia Filhote", "Espelhos no Quintal", "Canção do Mar” e "Viaduto", podem fazer com que as pessoas parem para pensar no que elas representam para o mundo?
R: Acho sim. Não vejo a necessidade de que todas as mensagens sejam somente usando o som punk. O punk é um meio fortíssimo de manifestação, de contestação. Mas não é o único. As pessoas prestam atenção à mensagens do mesmo gênero em outros ritmos, por exemplo: maracatu, com Mestre Ambrósio; música regional, como Terramérica ou Tarancom, etc.
Quando se põe uma mensagem verdadeira na letra, o som pode ser bem amplo.
Só no Brasil temos milhões de artistas. Acredito que se todos os artistas, sem exceção de área fizessem um apelo pelo meio ambiente muita coisa seria mudada.
Infelizmente, o ser humano só toma a atitude de mudança quando o problema começa a devorá-lo. Estamos num estado de emergência, mas pouquíssimas pessoas notaram isto.
Será que meus filhos vão respirar oxigênio de tubo? Será que isso não pode mudar?
Para conhecer mais: www.colera.org
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Um comentário:
parabéns pela entrevista
muito boa
cólera é foda!!
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